CÍRIO
DE NAZARÉ
FESTA DA FÉ
Texto. Ronaldo Brasiliense
Fotos. Lilia Tandaya
Todo
segundo domingo de outubro, entre 1,8 milhão e 2
milhões de pessoas ocupam as ruas centrais de Belém
do Pará, metrópole da Amazônia, na maior manifestação
religiosa do Brasil e uma das maiores do mundo. Além da
importância religiosa, o Círio tem grande significado
econômico para o Pará, pois movimenta todos os seus
setores produtivos, do comércio à indústria,
passando por serviços e pelo turismo. É, também,
um grande gerador de empregos, mesmo que temporário em sua
maior parte.
Só
os gastos com a organização do Círio de Nazaré
superam R$ 1 milhão, segundo cálculos feitos pela
Diretoria da Festa, em conjunto com o Departamento Intersindical
de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos (Dieese).
São despesas com evangelização, com as diversas
procissões que fazem parte da festividade, com marketing,
com a decoração do Círio, a sonorização
no trajeto das procissões, os fogos de artifício,
entre muitas outras. A maior parte dessas despesas é coberta
pelos patrocinadores, com destaque para o governo do Estado e a
prefeitura de Belém.
Em
2007, o Círio de Nazaré completa 214 anos, embora
a devoção pela Virgem no Pará tenha sua origem
em 1700, quando um caboclo chamado Plácido encontrou a pequena
imagem na beira de um igarapé, no mesmo local onde está
erguida hoje a Basílica de Nazaré. Mas a primeira
procissão ocorreu em 1793, quando o governador de então,
o português Francisco de Souza Coutinho, decidiu organizar
uma festa pública para divulgar a devoção dos
fiéis.
Inicialmente
o Círio era realizado em setembro, passando para todo segundo
domingo de outubro somente a partir de 1900. Desde 2003 o Círio
de Nossa Senhora de Nazaré é reconhecido como bem
cultural de natureza imaterial pelo Instituto de Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (Iphan), com aprovação
unânime do Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural,
graças a um inventário de referências culturais
iniciado em 2001. Trata-se da primeira manifestação
a conseguir o registro na categoria "celebração".


A
série de procissões que integram o Círio começa
na tarde de sexta-feira, quando a imagem da santa segue da Basílica
de Nazaré para a igreja matriz de Ananindeua, na região
metropolitana de Belém, num percurso de 40 quilômetros.
No sábado, bem cedo, ela vai na chamada Romaria Rodoviária
num trajeto de 24 quilômetros até o trapiche do distrito
de Icoaraci. Ali começa a Romaria Fluvial, iniciada em 1986.A santa é colocada numa embarcação e percorre
em torno de 10 quilômetros pela baia de Guajará até
o cais do porto de Belém, acompanhada por mais de 500 embarcações,
de todos os tipos e tamanhos.

Por
volta do meio-dia uma nova procissão, desta vez integrada
por milhares de motoqueiros, leva a imagem até à capela
do Colégio Gentil Bittencourt, às proximidades da
Basílica. No sábado à noite é a vez
da procissão da Trasladação, que sai do colégio
até a Catedral Metropolitana, fazendo o trajeto inverso da
grande procissão do domingo.


Na manhã de domingo,
depois de uma missa, às 7 horas a multidão dá
início à procissão do Círio, que vai
percorrer 4,5 quilômetros de ruas no centro de Belém
até o santuário, em frente à Basílica.
Essa procissão dura em torno de cinco horas.

Um
dos principais símbolos do Círio é a corda,
que começou a ser usada quando as ruas de Belém não
eram asfaltadas e viravam grandes atoleiros com as cheias da baía
do Guajará. Ela servia para puxar, com a ajuda de bois, a
berlinda com a imagem da santa. Com o tempo, a corda foi incorporada
como motivo de pagamento de promessa. São centenas de pessoas
que se espremem para segurar na corda, num enorme sacrifício
que geralmente termina com ferimentos nos pés e nas mãos.

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